O Diabetes Mellitus é uma síndrome metabólica caracterizada por excesso de glicose no sangue (hiperglicemia), devido à falta ou ineficácia da insulina.
A fisiopatologia do diabetes pode ocasionar algumas alterações no funcionamento do organismo além da diminuição da utilização da glicose o que gera a hiperglicemia, uma maior mobilização de gorduras o que pode aumentar o colesterol, uma maior depleção proteica o que pode trazer fadiga precoce, fraqueza muscular e perda de massa muscular, dentre outros e ainda um aumento da acidose, pelo aumento de corpos cetônicos o que pode ser extremamente prejudicial para o organismo.
Existem vários mecanismos de ação para melhora do controle glicêmico, o primeiro deles é o controle da obesidade central, por ser um fator que age diretamente na ação da insulina, ou seja, o tecido adiposo (reserva de gordura) libera algumas citocinas inflamatórias, entre elas o TNFα que então se liga na membrana das células, dificultando as reações da cascata insulínica diminuindo assim a translocação (passagem) da glicose para dentro das células, o que torna extremamente importante e indispensável o controle da obesidade.
O segundo e não mais importante seria interromper imediatamente o sedentarismo, ou seja, tornar-se um indivíduo fisicamente ativo, pois a prática regular de exercícios físicos além de melhorar a sinalização da cascata insulínica, ativa a via de captação da glicose AMPK (que é independente da insulina), então a translocação da glicose aumentará de duas maneiras o que irá contribuir para a redução da glicemia.
Outro fator extremamente importante seria o controle da massa muscular, o que também depende de uma vida fisicamente ativa, pois com o avanço da idade tendemos a perder massa muscular pelo processo de apoptose (células musculares que não são utilizadas, o que é favorecido pelo sedentarismo, tendem a serem descartadas pelo organismo), e com menos massa muscular, menor será a captação de glicose, então é extremamente necessário controlar e recuperar a massa muscular que foi “perdida” com o sedentarismo, daí a importância do treinamento resistido (musculação).
Otimizar a atividade metabólica da musculatura, que seria um aumento da quantidade de mitocôndrias, enzimas e da atividade enzimática e ainda a densidade capilar, também é muito importante para uma melhora do metabolismo da glicose, o que se é conseguido através de um treino dinâmico (aeróbio) em intensidades apropriadas.
Em relação à prática regular de exercícios físicos, vimos o quanto isso é importante, e desde que os exercícios sejam controlados em relação às capacidades do aluno os mesmos só trarão benefícios, portanto devem-se tomar alguns cuidados como: hipoglicemia, ou seja, os exercícios tem poder hipoglicemiante e se somado ao efeito hipoglicemiante de medicamentos ou pela aplicação de insulina, pode “baixar” demais a glicemia o que não é interessante, portanto é necessário se conhecer o medicamento, seu mecanismo de ação, as doses e horários que os mesmos são ingeridos ou aplicados e então manipular o horário da prática de exercícios em relação à ação do medicamento, por exemplo, se o aluno utiliza um tipo de insulina de ação rápida (imediata) significa que a glicemia dele irá diminuir imediatamente, então não seria recomendado praticar exercícios (que também irá diminuir a glicemia) logo após a aplicação, no caso de uma insulina de ação lenta, já seria diferente, portanto é importante que seu médico esteja consciente dessa prática e te oriente em relação ao melhor horário para realizar os exercícios.
Outro fator que também pode comprometer a glicemia durante o exercício é a alimentação, portanto devem-se tomar alguns cuidados e saber em que momento e o que se deve ingerir antes ou depois do treinamento.
Cuidados devem ser tomados em relação à hiperglicemia e cetoacetose, a Sociedade Brasileira de Diabetes não recomenda a prática de exercícios físicos em valores de glicemia maiores que 250 mg/dl e cetoacetose, portanto é necessário se conhecer sua glicemia antes de iniciar a prática.
Em relação aos cuidados a serem tomados pelo seu treinador, no que diz respeito ao treinamento, é necessário ajustar adequadamente as cargas, pois no caso dos exercícios resistidos (musculação) pesos elevados, repetições próximas à falha muscular, muitos exercícios por grupo muscular e treinos volumosos com intervalos diminuídos e no caso de exercícios dinâmicos (aeróbios) intensos, realizados nas zonas de treinamento 3 Alta e 4 (próximos da Frequência Cardíaca Máxima), podem aumentar a descarga adrenérgica e a participação do Sistema Nervoso Simpático, o que estimulará o fígado a liberar mais glicose para a corrente sanguínea o que irá “aumentar” a glicemia e diminuir o poder hipoglicemiante do exercício. Portanto é indispensável se conhecer as capacidades do aluno, o avaliando criteriosamente e assim ajustando as intensidades e volume do treinamento para não ocasionar aumento da descarga adrenérgica.
É importante ainda salientar que o aluno deverá sempre monitorar sua glicemia, estar atento para os sinais de hipo e hiperglicemia, manter-se hidratado (ingerir água) durante os exercícios e tomar cuidado com os pés no caso de neuropatia periférica, além de consultar frequentemente um médico especialista.
POR:
Prof. Esp. Wanderson Barcellos
Licenciado e Bacharel em Educação Física (UNIFIPA)
Especialista em Fisiologia do Exercício (UFSCAR)
Pós-graduado em Treinamento Personalizado (CEFEMA)
Treinador Pessoal
Sócio fundador do Programa Treino Certo Personal Online (wandersonedf@icloud.com)